sábado, 18 de abril de 2009

TIPOS DE DOR DE CABEÇA - Cefaléias secundárias

CEFALEIAS SECUNDÁRIAS

A dor de cabeça é um sintoma comum em adultos e crianças, sendo responsável por elevado número de consultas médicas, principalmente neurológicas. Os pacientes freqüentemente associam sua dor à possibilidade da existência de uma patologia potencialmente grave, como tumor ou aneurisma intracraniano. Lembrando que apenas o profissional de saúde especificamente treinado poderá oferecer tratamento adequado para sua dor de cabeça, algumas orientações podem ser úteis.

A Sociedade Internacional de Cefaleias divide as cefaleias em dois grandes grupos. O primeiro compreende as cefaleias primárias, aquelas que constituem em si mesmas a doença. O exemplo clássico é a migrânea sem aura, anteriormente denominada enxaqueca comum, e que atinge aproximadamente 16% das mulheres (para ver detalhes, clique em migrânea). O segundo grupo é formado pelas cefaleias secundárias, que fazem parte do cortejo sintomatológico de uma doença qualquer, seja esta primária do sistema nervoso central ou sistêmica.

Embora as dores de cabeça na sua grande maioria sejam primárias, o risco representado por algumas cefaleias secundárias justifica a preocupação de pacientes e médicos. Há médicos que se interessam de forma especial pelo estudo das cefaleias e sendo chamados de cefaliatras. Na grande maioria dos casos, trata-se de neurologistas. Você deveria consultar um desses profissionais, quando:



  1. a dor for de instalação súbita, principalmente se acompanhada a vômitos, tonturas, alterações da consciência, convulsão;
  2. a dor se associa a transtornos neurológicos, como rigidez de nuca, dificuldades para falar, fraqueza ou alterações de sensibilidade em braço, perna ou face;
  3. a dor se associa à febre;
  4. trata-se da “pior dor já experimentada pelo paciente”;
  5. a dor se iniciou após os 50 anos;
  6. a dor tem caráter progressivo, não respondendo mais a analgésicos;
  7. houver aparecimento de uma dor de cabeça nova e diferente daquela já experimentada pelo paciente;
  8. o paciente encontra-se em tratamento de algum tipo câncer ou de síndrome de imunodeficiência adquirida (SIDA);
  9. há história de queda ou trauma de crânio recente;
  10. quando houver abuso de analgésicos, mesmo naqueles pacientes sabidamente portadores de cefaleia primária (uso de mais de 15 comprimidos de analgésicos por mês, nos últimos seis meses). O uso abusivo de analgésicos é a causa mais comum da transformação de dores esporádicas (tipo migrânea) em cefaleia crônica diária. Esta é uma cefaleia secundária de tratamento extremamente difícil, que requer a suspensão de todo e qualquer medicamento sintomático (analgésico, anti-inflamatório) além de orientação por profissional com experiência em cefaliatria.

Um dos mais importantes estudos populacionais sobre dor de cabeça revelou que as cefaleias secundárias mais freqüentes foram as associadas à ressaca alcoólica e a processos febris comuns como as infecções das vias aéreas superiores (rino-sinusites, faringites, amigdalites, etc). Entre as patologias graves que determinam cefaleia secundária, incluem-se as hemorragias cérebro-meníngeas, as meningites, os tumores cerebrais e os hematomas intracranianos.

TIPOS DE DOR DE CABEÇA - Cefaléias primárias



OUTRAS CEFALEIAS PRIMÁRIAS

Existe um grupo interessante e heterogêneo de cefaleias encontradas no grupo 04 da Classificação Internacional de Cefaleias que ainda são pouco compreendidas e necessitam avaliação cuidadosa com exames de imagem e/ou outros testes apropriados.
O início de algumas dessas cefaleias pode ser agudo e os pacientes afetados são usualmente atendidos em unidades de emergência . A investigação apropriada e completa ( em particular neuroimagem) é indispensável nestes casos. Pacientes que sofrem deste tipo de cefaleia devem procurar um profissional médico que tenha experiência com dores de cabeça para que seja feita uma cuidadosa avaliação. A seguir relatamos as principais características destas cefaleias :



Cefaleia primária em facada: 
São cefaleias de curta duração (03 segundos ou menos), em pontadas, não estão associadas à doenças orgânicas e são encontradas com muita frequência em pacientes portadores de Migrânea (40%) ou Cefaleia em salvas (30%).


Cefaleia primária da tosse:
São cefaleias desencadeadas pela tosse ou esforço abdominal, são usualmente bilaterais e ocorrem predominantemente após os 40 anos de idade. Em cerca de 40% dos pacientes que sofrem de cefaleia relacionada a tosse encontramos patologias associadas e é importante nestes casos a avaliação com exames de imagem (Ex. Tomografia computadorizada do crânio).

Cefaleia primária do esforço físico:
São cefaleias precipitadas por qualquer forma de esforço físico e ocorrem predominantemente em clima quente ou em altitude elevada.


Cefaleia primária associada à atividade sexual:
Cefaleias desencadeadas por atividade sexual, começando geralmente como uma dor bilateral em peso enquanto a excitação sexual aumenta e subitamente tornando-se intensa no orgasmo. Ela pode ser pré-orgástica (antes do orgasmo) ou orgástica (durante o orgasmo).


Cefaleia hípnica:
Crises de cefaleia que sempre acordam o paciente, antigamente chamada de cefaleia do despertador. Ocorrem normalmente pela primeira vez após os 50 anos de idade.


Cefaleia trovoada primária:
Os pacientes descrevem normalmente esta cefaleia como se fosse um raio partindo sua cabeça ao meio, daí o seu nome. É importante nestes caso afastar a ruptura de aneurisma intracraniano com exames apropriados.

Hemicrania contínua:
São cefaleias que ocorrem sempre do mesmo lado da cabeça, diárias e contínuas, sem intervalos livres de dor.

Cefaleia persistente e diária desde o inícios (CPDI):
Este tipo de cefaleia apresenta quadro muito semelhante com a Cefaleia do tipo tensional, porém, pode não ter melhora desde o momento em que surge ou evoluir muito rapidamente para uma dor contínua e sem melhora. É interessante que os pacientes lembram claramente o dia que ela começou.

TIPOS DE DOR DE CABEÇA - Cefaleias em Salvas

As primeiras descrições da cefaleia em salvas datam do século XVII, sendo a mais antiga de 1641. Os aspectos clínicos têm sido abordados na literatura desde a metade do século XIX, sob várias denominações. Por muito tempo, essa forma clínica de dor de cabeça foi conhecida como “cefaleia histamínica” ou “cefaleia de Horton”. O termo cefaleia “em salvas” foi estabelecido em 1979 no Brasil e se tornou a designação oficialmente aceita e recomendada pela Sociedade Brasileira de Cefaleia.

A cefaleia em salvas é considerada rara, quando comparada aos outros tipos de dor primária, porém, este conceito tem sido modificado ao longo dos anos. Hoje, na opinião da maioria dos autores, a cefaleia em salvas é responsável por 6% do total de casos de dor de cabeça. É mais comum em homens, numa razão em torno de 3:1 e pode iniciar-se em qualquer idade, sendo mais comum o início na segunda ou terceira décadas de vida.

A cefaleia em salvas é caracterizada por dor intensa, unilateral, geralmente em torno da órbita, durando de 15 a 180 minutos, se não tratada. Pode ser acompanhada de vermelhidão no olho, lacrimejamento, congestão nasal e queda da pálpebra do mesmo lado da dor. O paciente refere sensação de inquietude ou agitação durante a crise. As crises têm uma freqüência de uma a cada dois dias a oito por dia. É caracterizada pela ritmicidade e por ser freqüentemente noturna, acordando o paciente no meio da noite. Acredita-se que esta dor tenha sua origem no hipotálamo, estrutura cerebral responsável por alguns mecanismos muito importantes para a regulação do corpo humano, incluindo controle temperatura, da regulação hormonal e do sono.

Uma investigação laboratorial do sono, a polissonografia, deverá ser solicitada de acordo com a idade e o índice de massa corpórea (calculado através do peso e da altura) para se avaliar possível concomitância com Apneia do Sono, que caso esteja presente, deverá também ser tratada.

O tratamento é feito durante a salva, ou seja, o período em que o indivíduo fica suscetível à dor, devendo ser suspenso no período livre de dor. O tratamento preventivo consiste em uma medicação que irá evitar o aparecimento da dor e deverá ser tomada regularmente. Deverá ser iniciado tão logo se inicie a salva. O tratamento da crise é para reduzir o tempo de dor e varia desde o uso de medicamentos sublinguais e injetáveis até o uso de oxigênio úmido sob máscara.

O importante é que o diagnóstico seja feito corretamente e que as medidas terapêuticas sejam tomadas precocemente, evitando maior tempo de sofrimento pelo paciente.

TIPOS DE DOR DE CABEÇA - Tipo Tensional


Conceito

Dentre as cefaleias primárias, a cefaleia do tipo tensional, em sua forma episódica, é a mais freqüente.

No passado, várias denominações se referiam a esse tipo de cefaleia: cefaleia de contração muscular, cefaleia de estresse, cefaleia psicogênica. Atualmente, a cefaleia do tipo tensional está bem definida na classificação da Sociedade Internacional de Cefaleia (SIC), com critérios claros de diagnóstico.

Epidemiologia

Possui elevada prevalência, mas por não ser tão intensa faz com que seus sofredores, mesmo na forma crônica, não procurem assistência médica. Há estudos epidemiológicos que evidenciam porcentagens de 38% a 74%.Considerando a prevalência na vida toda as porcentagens são de cerca de 69% em homens e 88% em mulheres. Considerando a prevalência em um ano, os dados são similares, 63% nos homens e 86% nas mulheres.

Formas clínicas

Considera-se atualmente cefaleia do tipo tensional episódica (CTTE) e cefaleia do tipo tensional crônica (CTTC). Algumas vezes, a CTTE evolui para a forma crônica, mas, outras vezes, o quadro é contínuo desde o seu início.

Diagnóstico e Quadro Clínico

O diagnóstico é clínico e geralmente não requer exames complementares. O exame neurológico é normal. A palpação dos músculos pericranianos deve ser feita rotineiramente.É fundamental obter história clínica detalhada das características da cefaleia, seu tipo, intensidade, localização, duração, periodicidade e etc.

Em geral, os pacientes descrevem a dor como uma sensação de aperto, pressão ou peso envolvendo a cabeça como uma faixa ou capacete. A localização é bilateral, sendo a região occipital predominante, mas também as regiões frontal e apical. De intensidade leve ou moderada não impedindo as atividades rotineiras diárias. Não raro essa dor melhora com atividade física ou relaxamento. Normalmente não há sintomas associados como náusea e osmofobia e vômito não acompanha essa dor.

Critérios Diagnósticos

Critérios diagnósticos de cefaléia do tipo tensional episódica: (cód: 2.2 da SIC)

A) Pelo menos dez episódios prévios preenchendo os critérios B. Número de dias com 
cefaleia
<180 ano="">
<180 ano="">B) Cefaleia durando de 30 minutos a sete dias.

C) Pelo menos duas das seguintes características da dor:
  1. Caráter de pressão/ aperto (não pulsátil);
  2. Intensidade de fraca a moderada (pode inibir, mas não impedir as atividades);
  3. Localização bilateral;
  4. Não é agravada pelos esforços físicos de rotina como caminhar ou subir escadas
D) Ambos os itens seguintes:
  1. Ausência de náuseas e vômitos (anorexia pode ocorrer)
  2. Fotofobia e fonofobia estão ausentes ou apenas um deles pode estar presente.
E) Ao menos um dos seguintes itens:
  1. História, exame físico e neurológico não sugere lesão orgânica (grupos 5-11).
  2. História, exame físico ou neurológico sugere lesão orgânica que é descartada por investigação apropriada.
  3. Lesão orgânica está presente, mas a cefaléia do tipo tensional não ocorre pela primeira vez em estreita relação temporal com ela.
Obs: A CTTE pode ou não estar associada com contração dos músculos pericranianos ao exame físico ou eletromiográfico.

Critérios diagnósticos de cefaleia do tipo tensional crônica: (cód: 2.3 da SIC)

A) Freqüência da cefaleia 180dias/ano por 6 meses ou mais, preenchendo os critérios B-D.

B) Pelo menos duas das seguintes características da dor:
  1. Caráter de pressão/ aperto (não pulsátil);
  2. Intensidade de fraca a moderada (pode inibir, mas não impedir as atividades);
  3. Localização bilateral;
  4. Não é agravada pelos esforços físicos de rotina
C) Ambos os itens seguintes:
  1. Ausência de vômitos (anorexia pode ocorrer)
  2. Não mais que um dos seguintes: náuseas, fotofobia e fonofobia.
D) Ao menos um dos seguintes itens:
  1. História, exame físico e neurológico não sugere lesão orgânica (grupos 5-11).
  2. História, exame físico ou neurológico sugere lesão orgânica que é descartada por investigação apropriada.
  3. Lesão orgânica está presente, mas a cefaléia do tipo tensional não ocorre pela primeira vez em estreita relação temporal com ela.
Obs: A CTTC pode ou não estar associada ao uso excessivo de medicações analgésicas. Além disso, pode ou não estar associada com contração dos músculos pericranianos ao exame físico ou eletromiográfico.

Diagnóstico Diferencial
No que diz respeito ao diagnóstico diferencial o mais difícil é entre a migrânea sem aura e a cefaleia do tipo tensional episódica. Com relação à localização, na migrânea predominam as dores unilaterais, porém localizadas, mais freqüentemente nas regiões frontal ou frontotemporal ou apresentando distribuição hemicraniana. Num número substancial de pacientes a dor é localizada bilateral predominando, também, a topografia frontal ou frontotemporal bilateral. Pode ser ainda holocraniana. Na cefaleia do tipo tensional há uma predominância absoluta de dores bilaterais localizadas ou difusas, mas em pequeno número de pacientes podemos evidenciar dores unilaterais.

As diferenças essenciais entre a cefaléia do tipo tensional crônica e a migrânea são a ausência de uma história prévia de migrânea episódica e a ausência de exacerbações bem definidas com características migranosas como unilateralidade predominante, qualidade pulsátil da dor, náusea intensa e vômitos.

Fisiopatologia

Uma única etiologia e uma única fisiopatogenia não podem explicar a cefaléia do tipo tensional, que é complexa, envolvendo diversos fatores e vários aspectos dos mecanismos geradores da dor.

Predisposição genética

Devido a enorme prevalência e variabilidade na freqüência e intensidade da cefaleia do tipo tensional nenhuma predisposição genética pode ser referida. Recentemente foi sugerido existir predisposição para o aparecimento da forma crônica. Até o presente, a grande maioria da população, talvez todos, tem potencial para desenvolver a cefaleia do tipo tensional se expostos a fatores desencadeantes.

Fatores desencadeantes

A associação entre cefaleia do tipo tensional e ansiedade e/ou depressão é sugerida por diversos trabalhos. Alterações emocionais, estresse psicossocial, tensão, ansiedade e depressão, são encontrados com freqüência nos pacientes que procuram o médico devido ao agravamento da cefaléia.

Mecanismos periféricos e centrais

Um episódio de cefaleia do tipo tensional episódica pode acontecer em qualquer indivíduo normal. Então, o episódio doloroso pode ser deflagrado por mecanismos normais de nocicepção. Existe a possibilidade de ocorrer por sensibilização dos nociceptores periféricos situados nos músculos pericranianos ou de neurônios de segunda ordem na medula ou supra-espinhais. Ou ainda, ocorrer por diminuição dos mecanismos antinociceptivos centrais, com diminuição do limiar da dor. Em circunstâncias normais, a cefaleia do tipo tensional seria favorecida por ativação inadequada das vias controladoras da dor, possivelmente devido à ansiedade, estresse e distúrbios emocionais. Além disso, existe um complexo mecanismo de sensibilização de neurônios centrais envolvendo interneurônios do tronco cerebral, sistema límbico e sistema trigeminal.

Wolff, foi o primeiro a levantar a hipótese de que uma contratura muscular regional reacional a um estímulo nocivo poderia ser fator gerador de dor. Discute-se hoje este possível mecanismo por ser pouco provável que a contração contínua ou intermitente dos músculos da nuca e do escalpo, seja por si só fator causal de dor. Posteriormente estudos eletromiográficos apresentaram argumentos que se opõem a este mecanismo fisiopatogênico. Alguns trabalhos evidenciaram maior tensão muscular em casos de migrânea do que em pacientes com cefaleia do tipo tensional, outros não evidenciaram diferenças significativas na amplitude dos eletromiogramas de músculos do escalpe e do pescoço entre pacientes com cefaleia do tipo tensional e pacientes sem cefaleia. Apoiados nesses resultados sugeriam que a contração muscular seria conseqüência e não a causa de cefaleia.

Atualmente acredita-se que cefaleia seja causada por alterações da bioquímica cerebral e não como se pensava anteriormente enfatizando a presença de contração de músculos pericranianos,ou mesmo pela coexistência de ambos. No entanto as dúvidas persistem e na atual classificação das cefaleias da SIC (1998) existem subgrupos com e sem associação com contração dos músculos pericranianos ao exame físico ou eletromiográfico.

Alterações Bioquímicas

A serotonina que tem papel importante na migrânea, foi demonstrada diminuída nas plaquetas de pacientes com cefaleia do tipo tensional. Outro parâmetro que também parece alterado é velocidade de captação da serotonina pelas plaquetas. A concentração plasmática de serotonina pode estar aumentada ou normal nos períodos de dor ou nos períodos intercríticos. Não há definição do papel da serotonina nos mecanismos geradores da cefaleia do tipo tensional.

Endorfinas, catecolaminas e aminoácidos neurotransmissores (como o glutamato, aspartato e glicina) assim como os peptídeos (substância P, peptídeo vasointestinal e o neuropeptídeo Y) também estão sendo estudados nesta cefaléia, porém parecem não alterados.

O GABA (ácido gama aminobutírico), um neurotransmissor inibitório, está elevado nos pacientes com cefaleia do tipo tensional. Esse aumento é maior do que a encontrado nos pacientes com migrânea. Isso sugere uma hiperexcitabilidade neuronal sendo controlada por esse neurotransmissor.

Alguns trabalhos sugerem o envolvimento do óxido nítrico (NO) na cefaléia do tipo tensional crônica.

Tratamento

O tratamento para a forma episódica são os analgésicos comuns ou os anti-inflamatórios não hormonais. Para a forma crônica é utilizado habitualmente a amytriptilina na dosagem de 25mg a 75mg/dia em uma única tomada preferencialmente à noite. Neste último caso se o paciente estiver fazendo uso excessivo de medicamentos sintomáticos, é de fundamental importância orientar o enfermo suprimi-los para que o tratamento profilático seja efetivo.

FONTE: Sociedade Brasileira de Cefaleia

CEFALÉIA NA MULHER



A mulher é um ser especial.

É especial por apresentar útero, menstruação ou regra, gravidez, parto, puerpério, menopausa, e por amamentar.

Cefaleia é sinônimo de dor de cabeça e esse termo engloba todas as dores de cabeça existentes. Portanto enxaqueca ou migrânea, cefaleia ou dor de cabeça tensional, cefaléia ou dor de cabeça da coluna ou cervicogênica, cefaleia em pontada, cefaleia secundária a sinusite, etc... são tipos dentro do grupo das cefaleias ou dores de cabeça.

A distribuição populacional de todas as cefaleias em um grande estudo populacional mostrou que a cefaleia tipo tensional é a mais comum (acomete 78% da população), seguida da enxaqueca ou migrânea em 16%.

Enxaqueca ou migrânea é a cefaleia cuja prevalência (número de casos de cefaleia numa determinada população em um determinado período) varia de 10 a 20% da população. Ocorre preponderância feminina em todos os estudos com uma proporção homem:mulher 1: 2-3. As razões para a preponderância de cefaleia na mulher ainda não são bem entendidas mas suspeita-se de alguma relação com o hormônio feminino. A influência dos hormônios femininos pode ser mais importante em migrânea do que em cefaleia tipo tensional.

Pode também ser devida à utilização mais freqüente dos cuidados de saúde pelas mulheres.

A prevalência da cefaleia nas mulheres aumenta durante o período fértil, reduzindo-se após a menopausa. A prevalência aumentada de migrânea na mulher não pode ser exclusivamente relacionada ao período fértil, pois as diferenças entre os sexos persistem na terceira idade.

Em relação à idade, até os 11 anos não se observa diferença de prevalência de migrânea entre os sexos; acima disso, a preponderância entre os sexos aparece. A idade mais comum de início da migrânea está entre a 2°/3° década de vida, e o início da migrânea é infrequente depois dos 50 anos.

A mulher passa por várias fases em seu ciclo de vida dependentes da fase hormonal: da infância entra na puberdade, onde ocorre a menarca ou primeira menstruação, para então passar pela fase de vida adulta onde apresenta ciclos menstruais. Nesta fase, a mulher pode ou não engravidar, pode ou não fazer uso de pílulas anticoncepcionais orais, quando então entra na fase de climatério, onde apresenta a menopausa e, durante as fases pré e pós-menopausa, a mulher pode ou não ser submetida à terapia de reposição hormonal.

Deve-se, portanto, respeitar a fase de vida na qual a mulher se encontra para que se raciocine adequadamente quando diante de um quadro de cefaléia na mulher.
Uma das cefaleias mais importantes na mulher é a migrânea menstrual, ou seja, a enxaqueca que ocorre antes, durante ou imediatamente depois da menstruação.

A migrânea menstrual tem sido reconhecida provavelmente desde os tempos de Hipócrates.

Definição: Migrânea menstrual verdadeira – crises de migrânea sem aura (sem estrelinhas na visão ou sem formigamentos nos braços e nas pernas) que ocorrem, exclusivamente, no período compreendido entre dois dias antes do início da menstruação até o final do fluxo menstrual e em nenhum outro período do ciclo menstrual. Essa é a migrânea menstrual pura ou verdadeira. Apesar de se saber que, na experiência clínica, migrânea com aura (com estrelinhas ou bolinhas na visão, ou sensação de formigamentos ou outro sintoma parecido em braços e/ou pernas) possa ocorrer. A migrânea menstrual verdadeira afeta cerca de 14% das mulheres com enxaqueca.

Migrânea associada à menstruação: Migrânea com piora no período menstrual, que ocorre em qualquer parte do ciclo, com exacerbação da freqüência e/ou da intensidade no período peri-menstrual.

Em 60 a 70% dos casos, as cefaléias são relacionadas ao ciclo menstrual.

Migrânea relacionada à menstruação começa na menarca (idade da primeira menstruação da menina) em 33% das mulheres.

Migrânea que ocorre de –7 a –3 dias antes da menstruação pode ser considerada migrânea pré-menstrual e associada à síndrome pré-menstrual (conhecida como TPM).

SD pré-menstrual ou TPM é caracterizada por sintomas que ocorrem na fase luteal (após a ovulação), incluindo fadiga em 90% das pacientes, irritabilidade ou depressão em 90%, humor lábil em 75%, alterações do apetite em 75%, e edema (inchaço) mamário e cefaléia em 50%.

A migrânea na mulher depende com certa freqüência da variação dos níveis hormonais e várias evidências apontam nessa direção:
  • Prevalência da migrânea a partir da menarca (33%);
  • A exacerbação da migrânea com uso de anticoncepcionais;
  • Desaparecimento ou atenuação da migrânea a partir do 2°trimestre gestacional;
  • Aparecimento rápido da migrânea no período puerperal (após o parto) principalmente por causa da queda rápida dos estrogênios;
  • Funcionamento da menstruação como gatilho de crises de migrânea;
  • Desaparecimento da migrânea na pós-menopausa;
  • Reaparecimento da migrânea em muitos casos com a terapia de reposição hormonal.
O mais importante a respeito de tudo que foi exposto até agora é o conhecimento de que as cefaléias nas mulheres e a enxaqueca ou migrânea menstrual apresentam tratamento especializado.

A paciente deve preencher um diário detalhado (fornecido pelo médico) com a freqüência das crises, os dias da cefaléia, a intensidade da dor, a presença ou não de manifestações associadas, a regularidade do ciclo, a resposta ao tratamento. Esse diário é extremamente importante porque mostra um retrato fiel do tipo de migrânea menstrual, dos fatores que a desencadeiam ou que pioram ainda mais essa fase menstrual, e a eficácia do tratamento.

O tratamento terá algumas diferenças se a migrânea for piorada com a menstruação (migrânea associada à menstruação) ou se a migrânea for a migrânea menstrual verdadeira.

Sempre com orientação médica, o tratamento inicial das mulheres que apresentam migrânea através o ciclo menstrual, incluem medidas gerais, tais como, relaxamento, identificação e eliminação de desencadeantes, uso de medicações preventivas e sintomáticas.

Medicações sintomáticas são usadas para diminuir a duração e a intensidade de uma crise individual.

Medicação preventiva deveria ser considerada quando há três ou mais crises por mês que sejam prolongadas e não responsivas a medidas sintomáticas.

Há várias medicações para o tratamento, sempre utilizar medicamentos com orientação médica.

Com relação às mulheres que engravidam e apresentam cefaléia:

É comum tais mulheres apresentarem melhora das cefaléias antigas durante o segundo e o terceiro trimestres gestacionais.

A migrânea na gestação é bastante estudada, porém outras cefaléias como tipo tensional e outras formas de cefaléias mais complicadas podem ocorrer.

Parece que os níveis crescentes, altos e sustentados de estrogênio favorecem a melhora da migrânea na gestação.
Porém as mulheres que apresentam piora da cefaleia (cerca de 30%) ou cefaleia pela primeira vez na gravidez devem procurar um especialista, pois há tratamento para essas cefaleias e medicações que podem ser utilizadas, sempre com orientação médica.

Há também várias medidas não medicamentosas que podem ser utilizadas para que a mulher tenha uma gravidez tranquila, como é de seu merecimento, uma vez que a mesma se encontra num estado tão especial, o gestacional.

PREVENÇÃO DAS CEFALEIAS



TALVEZ VOCÊ NÃO ESTEJA FAZENDO TUDO POR SUA CEFALEIA


Se você tem dores de cabeça freqüentes, saiba que há mais para ser feito do que somente controlar as crises quando elas ocorrem. É possível reduzir a freqüência e a intensidade das crises e torná-las mais responsivas aos medicamentos, através de um tratamento preventivo. A maioria dos pacientes obtém melhora significativa dentro de poucos meses.
Nos últimos anos, foram lançados novos medicamentos eficazes para o tratamento das crises e com mínimos efeitos colaterais, o que constituiu um enorme benefício para os sofredores de cefaleias. Ainda assim, algumas pessoas não respondem satisfatoriamente aos medicamentos para as crises, persistindo com cefaleias intensas e prolongadas; outras apresentam crises muito freqüentes, sendo necessário o uso dessas medicações várias vezes na semana.
Se você perde muito da sua vida com crises de cefaleia freqüentes ou fortes, existem outras opções para você manejar a sua dor. Ao invés de tomar medicações somente “quando necessário”, ou seja, para controlar a dor e outros sintomas de uma crise, você pode tentar um tratamento preventivo. Existem, hoje, medicações surpreendentemente eficazes na prevenção das crises.

INTERROMPER OU PREVENIR A DOR
Vários medicamentos podem ser úteis para interromper uma crise de cefaleia que já começou e/ou está progredindo — analgésicos comuns, anti-inflamatórios, ergotamina, dipirona, combinações analgésicas e triptanos. Esses medicamentos, conhecidos como abortivos ou sintomáticos, quando consumidos indiscriminadamente por períodos de tempo longos podem levar a complicações, entre as quais o agravamento da própria cefaleia que se deseja tratar. Em busca do alívio imediato da dor, os pacientes ingerem quantidades progressivamente maiores de medicações abortivas sem prescrição ou acompanhamento médico. Se utilizadas freqüentemente em quantidades excessivas, separadamente ou em combinação, esses medicamentos podem perpetuar a cefaleia, tornando-se um problema crônico diário, como tem sido constatado por diversos estudos.
As medicações preventivas devem ser utilizadas diariamente, de forma regular e por períodos prolongados, não tendo efeito nas crises. O tratamento preventivo pode não eliminar completamente a cefaleia, mas reduz a freqüência e a intensidade das crises, tornando-as mais facilmente controláveis pelos medicamentos sintomáticos. Com o tratamento preventivo, é possível reduzir a freqüência do uso de medicações sintomáticas, tornando menos provável a cronificação da dor pelo abuso de medicamentos. 


QUANDO UTILIZAR MEDICAMENTOS PREVENTIVOS?
Os medicamentos preventivos são geralmente reservados para pessoas que apresentam cefaléia com freqüência alta ou com crises de forte intensidade e que não respondem satisfatoriamente à medicação sintomática, ou ambos.
Os profiláticos também são importantes para pessoas que têm cefaleia em períodos previsíveis. Por exemplo, mulheres com enxaqueca menstrual ou indivíduos com cefaleia em salvas que apresentam dor em determinado período do ano podem começar a tomar a medicação preventiva antes desse período para reduzir o risco de cefaleias fortes.
Somente o médico está habilitado a lhe prescrever uma medicação preventiva adequada ao seu caso.